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sábado, 28 de julho de 2018

Como argumentar bem

A argumentação é parte do cotidiano. Acontece toda vez que tentamos convencer alguém sobre algo que pensamos. O que ocorre de diferente na argumentação escrita é que se você não mantém o leitor interessado, ele te deixa “falando sozinho”.
Para que seu público não lhe dê as costas, não basta dominar a técnica e ser criativo. É preciso saber com quem se fala.
A argumentação é uma manifestação social, que não fala apenas sobre o assunto, mas também sobre quem argumenta. Ela está presente em quase todo veículo de mídia, mesmo que disfarçada. Sempre que tentamos transmitir uma ideia sobre algo, estamos argumentando. Numa entrevista de emprego, numa redação para o vestibular ou numa simples conversa, temos ali o tempo todo o argumento.
O primeiro requisito é conhecer o assunto. Escrever sobre o que não sabemos é correr o risco de parecermos idiotas (ou sermos, de fato). Sobretudo quando o destino é a internet, onde fatalmente alguém que entende mais do assunto que você encontrará seu material. O segundo é dominar a técnica. Seguem algumas dicas.
Argumentar não é escrever bem. É possível manter um leitor atento por 3 ou 4 páginas sem transmitir conteúdo algum, mas o objetivo aqui é exatamente o oposto. A boa argumentação é geralmente clara e direta. Você tem interesse em transmitir a ideia, mas ninguém tem necessariamente interesse em recebê-la. Pense nisso.
O argumento deve ser centrado no receptor. Adeque sua linguagem ao público de destino. “Escrever bonito” pode ser entediante para uns, enquanto a escrita “direta e reta” pode ser pobre para outros. Fale a língua de quem deseja atingir. Se o público for misto, use uma linguagem rica, mas se faça valer de metáforas ou analogias que facilitem o entendimento de conceitos mais complexos.
Ataque sem ofender. A persuasão não deixa de ser um tipo de ataque, quando queremos confrontar outro argumento, ou mesmo substituir concepções antigas sobre um tema. Devemos esperar que a defesa reaja, naturalmente. Contudo, qualquer conteúdo agressivo pode, no lugar de incitar um debate saudável, descarregar sentimentos de raiva ou inconformidade. Por vezes, estes sentimentos bloqueiam completamente a leitura. Se o texto passa a sensação de um conselho de amigo ou de ensinamentos de um avô, ele será muito mais efetivo em seu objetivo que se passar a sensação de um tapa na cara. Novamente, atenção ao público. Termos aparentemente inofensivos para você podem soar como ofensas a outra pessoa.
Nenhum argumento se sustenta sem bases. E esse é o ponto crucial da boa argumentação. Abaixo, os tipos mais comuns de bases para um argumento, frequentemente utilizados em publicidade, e que você deve tentar evitar:
  1. Autoridade: Consiste em basear-se na opinião de alguém ou de uma entidade com maior prestígio e visibilidade para o assunto tratado. Não é interessante por fazer você parecer um representante. Se as pessoas quiserem saber a opinião de uma autoridade nesse assunto, elas procurarão essa autoridade. Se te procuraram, querem saber o que você pensa. Quando usamos desse artifício, nos colocamos no mesmo grau de entendimento que o receptor, perdendo credibilidade. Isso inclui encher um texto com links que as pessoas provavelmente não abrirão. Ex.: “Nove em cada dez médicos recomendam…”.
  2. Universalidade: É basicamente usar do “senso comum”. Qualquer argumento que comece com “é comumente aceito que” ou “todos sabemos que” tende a parecer falacioso. E geralmente é. Se é comumente aceito e todos sabem, não há necessidade de dizer novamente. E nesse campo entram diversos clichês e preconceitos que tornam um argumento raso. Ex.: “Toda mulher gosta de…”.
  3. Experiência Pessoal: Eventualmente é interessante, mas torna o argumento subjetivo. Se aconteceu com você, se você viu, se você constatou, é importante deixar claro que outra pessoa pode chegar à mesma conclusão que você a partir de uma experiência semelhante. É a lógica do empirismo. A experiência pessoal tem validade, mas não sozinha. Ela pode ser muito útil para introduzir um argumento. Ex.: (bom uso) “Nos últimos meses, quando passo próximo à Estação da Luz, tenho percebido um aumento na quantidade de menores usando drogas. Os índices apresentados pela polícia confirmam essa impressão…”; (mau uso) “Sempre que sinto esses calafrios, chove no dia seguinte, então podem apostar que amanhã teremos chuva!”.
  4. Semelhança a algo já aceito: É uma estratégia “safada”. Comparamos nosso argumento a uma situação ou ideia já aceita pelo grupo, e fazemos tentar parecer que o raciocínio é o mesmo. Mas se somos percebidos, nos identificam como charlatões – e cobertos de razão. Basta ligar a televisão por 5 minutos e veremos uma riqueza de exemplos. Já perceberam como as propagandas de bancos são bonitas? Famílias felizes, paisagens, viagens, amores eternos e uma porção de coisas que nada tem a ver com a abertura de uma conta e o pagamento de anuidades. Pode ser útil para vender, mas quando o objetivo é o debate, é uma péssima estratégia.
Como fugir do óbvio, então? Simples, mas complicado: base histórica e factual, sequência lógica e, atualmente, a base científica. Para conseguir isso, voltamos ao primeiro conselho desta postagem. É preciso conhecer o assunto. Leia artigos atuais, tenha contato com discursos clássicos e saiba de onde veio este conhecimento. Na urgência, até o poderoso Google pode salvar seu texto. E lembre-se que um bom texto argumentativo passa a sensação de diálogo. Ele deve fluir como uma conversa, apropriada a quem se destina.
Para saber mais (conteúdo gratuito):
Argumentação em redações: http://www.infoescola.com/redacao/argumentacao/

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