Bruno Soalheiro
Uma das características mais fortes e marcantes de nossa espécie é sem dúvida a sociabilidade, a vontade de pertencer a grupos, de ver e ser visto, de apreciar e ser apreciado. Ferramentas inéditas de interação social, como o onipresente FACEBOOK evidenciam isto de forma assombrosa.
Não tem jeito, a gente quer ver e ser visto, falar e ser ouvido ( e ouvir) , apreciar e ser apreciado. Aliás, há quem afirme que este é o maior anseio de qualquer ser humano adulto: ser apreciado. (legitimamente, de preferência).
Vou repetir: todo mundo gosta de ser apreciado. A gente até se penteia por causa disso.
Quando tive a oportunidade de entrar em uma multinacional e começar a trabalhar no meio de executivos competentes e bem preparados (Eu ainda estou treinando pra ser um) imaginei que minha maior dificuldade fosse conseguir dar conta do volume de trabalho, das especificidades técnicas, dos relatórios, dos gráficos, dos números e etc. Engano meu!
A maior dificuldade e o maior desafio para quem deseja sobreviver e crescer em uma empresa, especialmente em cargos gerenciais é a seguinte:
Fazer política!
Não que você possa fazer só política e ser incompetente ( se bem que existe isto), mas geralmente dar conta do trabalho técnico é algo infinitamente mais simples do que descobrir como transitar entre os egos, as vaidades, as camaradagens e as forças políticas que imperam em uma organização. Seja ela qual for, tenha ela o tamanho que tiver.
É ingenuidade pensar que, assim como pregam os livros, dentro de uma empresa todos estarão lindamente organizados, como uma orquestra afinada, em busca dos mesmos objetivos.
O que geralmente você vai ver por aí são brigas interdepartamentais, gerentes guerreando por pontos de vista diferentes, pessoas jogando culpa umas nas outras, gente se esquivando de responsabilidades, gente querendo que lhe prestem reverência, outros impacientes porque tem mais de 15 anos de casa e querem ser atendidos diferenciadamente, aquele que se sente o maioral porque é colega do presidente, enfim… É a fogueira das vaidades. E saber como caminhar neste fogo é tão importante quanto fazer o seu trabalho. Na verdade. se não souber caminhar no fogo, você talvez nem consiga fazer o seu trabalho.
Infelizmente para qualquer novato, este é o tipo de conhecimento que dificilmente se adquire na teoria. Isto por que ele tem que ser construído baseado na dinâmica única de cada organização. Na prática, na observação, nos erros.
Não se trata necessariamente de ser falso, submisso, ou sacrificar seu caráter para agradar aos outros. Se trata de construir relacionamentos, relações de “amizade” ou “camaradagem” ou “afinidade” dentro da empresa. Podem chamar isto de networking, eu chamo de fazer política.
Sabe aquele diretor de cara fechada que muitas vezes dá uns gritos quando é contrariado? Faça dele seu camarada. Tem jeito sim, observe e verá que tem. Sabe aquele gerente que gosta muito de reverência e de ser apreciado? Pois aprecie-o. Seja disponível, educado, faça favores, descubra aqueles que tem o poder de decisão e achegue-se à eles!
Parece triste, falso, pesado, frio e calculado o que eu disse no parágrafo acima?
Às vezes é! Mas nem sempre.
Por mais poderosos, intransigentes ou insanos que sejam os membros da alta gerência, ou mesmo o pessoal operacional, no fundo são todos humanos. E todos querem a mesma coisa: ser apreciados, respeitados, ouvidos. (alguns reverenciados…).
Portanto, dentro do bom senso e do respeito à sua dignidade, procure descobrir o ponto chave de cada pessoa, se achegar a ela e fazer com que ela perceba em você um aliado, que está ali para ajudá-la a resolver problemas, conseguir resultados e, porque não, de vez em quando, apreciá-la um pouco.
Fazer política dentro de uma organização pode ser tão importante para seu crescimento quanto sua capacidade técnica em executar seu trabalho.
Pode ser triste para alguns, mas é a mais pura verdade!
Até!
Psicólogo, palestrante e consultor em desenvolvimento humano.